Os Doze Apóstolos Tombaram
Na manhã de anteontem, sem pena nem rito,
Doze eucaliptos foram ao chão, num grito.
Guarabira os viu cair, mártires verdes,
Sangrando resinas, num pranto em rede.
O sol inclemente reinará absoluto,
Na praças vazias de sombra e em luto.
Mutiladas, as árvores que restam aguardam,
A foice do homem, que as podam e retalham.
Doze apóstolos da terra, do ar, do chão,
Firmavam o solo, limpavam a amplidão.
Mas julgaram-nas doentes, ameaças ao passo,
Tombaram, sem culpa, num golpe em laço.
Eram centenárias, troncos altaneiros,
Erguidas ao céu, vigilantes guerreiros.
Não eram dali, vinham de outras paragens,
Mas fincaram raízes, tecendo paisagens.
Agora, a praça está nua, sem vida, sem cor,
Um solo ferido, um grito de dor.
E no mês da campanha, da fraternidade,
Ceifam os sonhos de sustentabilidade.
Não vi cupins, nem fungos vorazes,
Vi seiva pulsando em troncos audazes.
Resistiram ao vento, ao tempo, à lida,
Mas não resistiram à mão herbicida.
E o que se fez depois do massacre?
Desculpas rasas, raízes ao nada,
Mudas jogadas, sem berço ou afeto,
Madeira em queda num solo incompleto.
Se matam doze, cem sejam erguidas,
Que brotem do chão novas despedidas.
Que aprendam que a terra se nutre de vidas,
E que a sombra é abrigo das dores perdidas.
Que se replante tudo em tom de
desculpas
Ao meio ambiente, seus filhos da
puta.
Pois não haverá um pingo de entendimento
Derrubar um pé de árvore pra fazer
um calçamento.
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