Filho de Alexandre
Rodrigues dos Anjos e de Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos, Augusto dos
Anjos nasceu em 20 de abril de 1884, no antigo engenho Pau D’Arco. Observado
como o único poeta pré-modernista brasileiro, demonstra em seus poemas
sentimentos de desesperança e angústia, ele completa 140 anos de nascimento.
Seu pai, formado
em Direito, foi o responsável por lhe instruir, e logo após começou a se
desenvolver significativamente nas artes e produzir seus maravilhosos poemas. Seguindo
o genitor, também se formou em Direito em Recife, em seguida, Augusto retornou
para João Pessoa, onde foi professor no Liceu Paraibano, escola estadual e anos
depois seguiu para o Rio de Janeiro. Em 1911 é nomeado professor de Geografia naquele
estado e um ano depois lança seu livro, intitulado “Eu”.
Na época, os
poemas causaram espanto nos críticos, já que alguns textos citam a morte,
angústia, desesperança e sentimentos profundamente obscuros. As
particularidades do autor o trouxeram destaque e importância em um momento com
tendências diversas.
Três poemas de Augustos dos Anjos pra você recitar
hoje.
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e
do amoníaco,
Monstro de escuridão e
rutilância,
Sofro, desde a
epigênesis da infância,
A influência má dos
signos do zodíaco.
Profundissimamente
hipocondríaco,
Este ambiente me causa
repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia
análoga à ânsia
Que se escapa da boca de
um cardíaco.
Já o verme — este
operário das ruínas —
Que o sangue podre das
carnificinas
Come, e à vida em geral
declara guerra,
Anda a espreitar meus
olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas
os cabelos,
Na frialdade inorgânica
da terra!"
Budismo moderno
Tome, Dr., esta tesoura,
e... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a
bicharia roa
Todo o meu coração,
depois da morte?!
Ah! Um urubu pousou na
minha sorte!
Também, das diatomáceas
da lagoa
A criptógama cápsula se
esbroa
Ao contato de bronca
destra forte!
Dissolva-se, portanto,
minha vida
Igualmente a uma célula
caída
Na aberração de um óvulo
infecundo;
Mas o agregado abstrato
das saudades
Fique batendo nas
perpétuas grades
Do último verso que eu
fizer no mundo!
O poeta do hediondo
Sofro aceleradíssimas
pancadas
No coração. Ataca-me a
existência
A mortificadora
coalescência
Das desgraças humanas
congregadas!
Em alucinatórias
cavalgadas,
Eu sinto, então,
sondando-me a consciência
A ultra-inquisitorial
clarividência
De todas as neuronas
acordadas!
Quanto me dói no cérebro
esta sonda!
Ah! Certamente eu sou a
mais hedionda
Generalização do
Desconforto...
Eu sou aquele que ficou
sozinho
Cantando sobre os ossos
do caminho
A poesia de tudo quanto
é morto
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