sexta-feira, 19 de abril de 2024

Augusto dos Anjos completa 140 anos de nascimento. Três poemas dele para você recitar agora

 






Filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e de Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos, Augusto dos Anjos nasceu em 20 de abril de 1884, no antigo engenho Pau D’Arco. Observado como o único poeta pré-modernista brasileiro, demonstra em seus poemas sentimentos de desesperança e angústia, ele completa 140 anos de nascimento.

Seu pai, formado em Direito, foi o responsável por lhe instruir, e logo após começou a se desenvolver significativamente nas artes e produzir seus maravilhosos poemas. Seguindo o genitor, também se formou em Direito em Recife, em seguida, Augusto retornou para João Pessoa, onde foi professor no Liceu Paraibano, escola estadual e anos depois seguiu para o Rio de Janeiro. Em 1911 é nomeado professor de Geografia naquele estado e um ano depois lança seu livro, intitulado “Eu”.

Na época, os poemas causaram espanto nos críticos, já que alguns textos citam a morte, angústia, desesperança e sentimentos profundamente obscuros. As particularidades do autor o trouxeram destaque e importância em um momento com tendências diversas.

 

Três poemas de Augustos dos Anjos pra você recitar hoje.

 

 

Psicologia de um vencido

 

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênesis da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.

 

Profundissimamente hipocondríaco, 

Este ambiente me causa repugnância... 

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia 

Que se escapa da boca de um cardíaco.

 

Já o verme — este operário das ruínas —

Que o sangue podre das carnificinas 

Come, e à vida em geral declara guerra,

 

Anda a espreitar meus olhos para roê-los, 

E há de deixar-me apenas os cabelos, 

Na frialdade inorgânica da terra!"

 

 

 

Budismo moderno

 

Tome, Dr., esta tesoura, e... corte

Minha singularíssima pessoa.

Que importa a mim que a bicharia roa

Todo o meu coração, depois da morte?!

 

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!

Também, das diatomáceas da lagoa

A criptógama cápsula se esbroa

Ao contato de bronca destra forte!

 

Dissolva-se, portanto, minha vida

Igualmente a uma célula caída

Na aberração de um óvulo infecundo;

 

Mas o agregado abstrato das saudades

Fique batendo nas perpétuas grades

Do último verso que eu fizer no mundo!

 

 

 

O poeta do hediondo

 

Sofro aceleradíssimas pancadas

No coração. Ataca-me a existência

A mortificadora coalescência

Das desgraças humanas congregadas!

 

Em alucinatórias cavalgadas,

Eu sinto, então, sondando-me a consciência

A ultra-inquisitorial clarividência

De todas as neuronas acordadas!

 

Quanto me dói no cérebro esta sonda!

Ah! Certamente eu sou a mais hedionda

Generalização do Desconforto...

 

Eu sou aquele que ficou sozinho

Cantando sobre os ossos do caminho

A poesia de tudo quanto é morto

 

 

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