Possivelmente seja uma lenda, uma força de expressão, que pelo telefone
sem fio, foi de boca em boca até se cristalizar no inconsciente coletivo.
Porém, dizem que antes de ser o tremendo orador e autor dos conhecidíssimos
“Sermões”, o Padre Antônio Vieira que nasceu em Lisboa, em 1608, e morreu na
Bahia, em 1697. Com sete anos de idade, veio para o Brasil e entrou para a
Companhia de Jesus. Quando jovem, este tinha um intelecto sofrível, era
totalmente tapado. Sua cabeça só servia pra separar as orelhas uma da outra e
segurar o boné. Porém, afirmam alguns de seus biógrafos que maior mesmo do que
a sua burrice era a sua enorme fé pela Virgem Maria, mãe de Jesus, a quem
sempre fazia orações, pedindo de maneira fervorosa que lhe concedesse o saber
necessário das coisas que não possuía até então.
Foi então, que um dia, rezando fortemente para a mesma e no afã de
aprender a aprender, o jesuíta sentiu uma espécie de estalo, tão forte, que
teria experimentado um aperreio, uma agonia, como quem estivesse quase para
morrer ou parir. Tornando-se um dos maiores autores da língua portuguesa.
Esta expressão — "estalo de Vieira" — foi de uso popular
durante vários séculos, sobretudo no nordeste brasileiro, para designar uma
repentina e miraculosa compreensão de algo que, até aquele momento, fora
desconhecido ou impossível para alguém. E, sendo ou não uma estória real, com
certeza, em relação a determinadas coisas, situações ou pessoas, todos nós já
experimentamos, em algum momento, a sensação de ter um “estalo” desses de
Vieira.
No meu caso, nunca fui tão besta. Como se diz por aqui no Nordeste.
Sempre sacava muitas coisas, antes da maioria. Tá certo. Mas escrevia errado,
não era bom em exatas. Porém, meu estalo de Vieira, veio mesmo após um fora bem
dado de uma garota que me rejeitou. Tinha ficado com ela uma noite, apenas uns
beijinhos e uns amassos na verdade, mas fui dormir apaixonado desesperadamente
pela mesma. Fui procurá-la em outros dias. Até quando nos encontramos, que
decepção, senti uma rejeição inexplicável por parte dela. Um afastamento
notório de quem não está mesmo afim. Daí, fiquei com aquela angústia. Aquela
vontade de botar pra fora o que não sabia o quê. E em um caderno velho, fui
rabiscando e escrevendo. Fiz um poema. Depois outro e mais outro. Uns versos
melosos. Uns poemas ridículos, umas palavras de dor de cotovelo. Fui tomando
gosto pela coisa, pela leitura constante, não tem como dissociar a escrita da
leitura, até adorar e fazer da arte de ler e de escrever uma extensão de mim.
De minha língua em conjunto com meu cérebro. Uma possibilidade de organizar as
palavras caóticas e certeiras do meu pensamento. Uma força que me orgulha até
hoje. Ou ainda, uma arma para quando houver demanda da defesa ou o do ataque.
Além de me ajudar na vida acadêmica e nas seleções e concursos. Pois no pacote
veio junto a ampliada interpretação de textos e conjunturas, a compreensão de
cálculos e a memória fotográfica para fórmulas.
Cada um que tenha o estalo de Vieira que mereça. Pois, ser burro pode
ser menos doloroso, o cara não compreende a maquinaria sistemática do mundo cão
ao seu redor querendo lhe lascar, vive feliz, no entanto, é sem graça, sem
futuro e tedioso demais. Quando vai ser o seu estalo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário