Por Magal Melo
Após 46 anos afastado da direção, o veterano ator e cineasta Antonio Pitanga — pai de Camila Pitanga — retorna ao comando de um longa-metragem com um tema de profunda importância: a Revolta dos Malês. Intitulada Malês, a produção tem estreia confirmada para o segundo semestre de 2025, segundo a Tambellini Filmes, produtora do projeto. A distribuição ficará a cargo da Imovision, reconhecida por fomentar o cinema autoral brasileiro.
O filme retrata a insurreição que ocorreu em Salvador, em 1835 — a maior revolta urbana de pessoas escravizadas da história do Brasil, liderada por africanos muçulmanos que clamavam por liberdade e justiça. Mais do que uma reconstrução histórica, Malês é um tributo cinematográfico à resistência negra no país.
Um retorno histórico
Pitanga, um dos nomes mais respeitados do cinema brasileiro e ícone do movimento Cinema Novo, retorna à direção após sua estreia com Na Boca do Mundo (1978). Neste novo trabalho, ele não apenas dirige, como também interpreta o personagem histórico Pacífico Licutan, uma das principais lideranças do levante.
As filmagens foram realizadas em Salvador e Cachoeira (BA), e também em Maricá (RJ), compondo um cenário de forte valor simbólico. A Bahia de 1835 será palco de uma narrativa que entrelaça personagens históricos e ficcionais, ressaltando a força coletiva e espiritual dos povos africanos em luta contra a escravidão.
Elenco de resistência
O elenco é composto por nomes de peso da cena artística nacional, incluindo os filhos do diretor: Camila Pitanga e Rocco Pitanga, além de Bukassa Kabengele, Samira Carvalho, Wilson Rabelo, Rodrigo de Odé e Patrícia Pillar. Com roteiro assinado por Manuela Dias (Amor de Mãe) e direção de fotografia de Pedro Farkas, o filme já gera grande expectativa, tanto pelo conteúdo quanto pela excelência técnica.
Representatividade e espiritualidade
Mais do que um drama histórico, Malês mergulha na espiritualidade islâmica dos negros malês — homens alfabetizados, organizados e politicamente conscientes, que protagonizaram um dos mais ousados atos de resistência do período colonial. A trama acompanha a trajetória de dois jovens muçulmanos escravizados que se envolvem na conspiração e nos desdobramentos da revolta, numa narrativa marcada pela fé, coragem e ancestralidade.
Uma das maiores apostas do cinema brasileiro
Com estreia prevista para o segundo semestre de 2025, Malês se consolida como uma das produções mais aguardadas da década — não apenas pelo retorno de Pitanga à direção, mas pela abordagem inédita, potente e necessária da temática negra e antiescravista no cinema nacional. O filme reafirma que a abolição da escravidão no Brasil não foi um ato pacífico, mas fruto da luta de inúmeros movimentos, como o dos malês.
Malês promete trazer à tona uma história apagada dos livros escolares e de muitos registros oficiais, devolvendo-lhe as cores, os sons e os rostos de quem ainda resiste — todos os dias — no país que mais recebeu africanos escravizados no mundo.